O Futuro da Cultura e o Fim da Originalidade: O que as tendências do SXSW 2025 revelam sobre o nosso tempo

O Futuro da Cultura e o Fim da Originalidade: O que as tendências do SXSW 2025 revelam sobre o nosso tempo

 

A cultura como conhecemos está passando por um ponto de inflexão. Em um mundo de remixagem infinita, memes que duram segundos e inteligência artificial gerando tudo — de textos a trilhas sonoras —, surge uma pergunta provocadora: estamos diante do fim da originalidade?

Essa reflexão é uma continuação do conteúdo publicado em nosso site — clique aqui para acessar  — e ganhou ainda mais força com os debates e provocações apresentados no SXSW 2025, um dos maiores festivais globais de inovação, cultura e tecnologia. Entre os principais insights, Jacques Meir, especialista em tendências e inovação, destaca duas tendências que ajudam a entender o que está em jogo nessa nova era: o Dadaísmo Digital e a Conexão Cenográfica.

 

Dadaísmo Digital: O absurdo como estratégia

No início do século XX, o movimento dadaísta surgiu como uma resposta caótica ao racionalismo e à lógica que levaram o mundo à guerra. Cem anos depois, o “espírito Dada” reaparece no marketing e na comunicação digital como uma resposta criativa à saturação de conteúdos e à competição pela atenção.

Esse movimento, chamado de Dadaísmo Digital, propõe uma quebra proposital de padrões. Marcas que flertam com o nonsense, o sarcasmo e o inesperado conseguem se destacar em meio ao barulho constante da internet. É como se a única forma de chamar atenção hoje fosse, justamente, deixar de tentar fazer sentido.

E o mais interessante: essa estética do “estranho” não é apenas rebeldia. É estratégia. É um convite à imperfeição, ao improviso e à quebra da narrativa perfeita — uma tentativa de escapar da mesmice. Em tempos de excesso de filtros e roteiros prontos, a disrupção estética é o novo frescor.

 

Conexão Cenográfica: A experiência como narrativa visual

A segunda tendência destacada é a da Conexão Cenográfica. Em vez de apenas viver a realidade, nós a transformamos em palco — seja em uma cafeteria descolada, um museu interativo ou um festival de música. Cada espaço, cada canto instagramável, cada experiência é pensada como parte de uma narrativa maior: a da nossa própria identidade digital.

Não se trata mais de trazer o digital para a vida, mas sim de moldar a realidade para que ela seja absorvida pelo digital — por meio de fotos, vídeos, stories e, cada vez mais, metaversos, avatares e realidades imersivas.

Essa lógica aprofunda uma nova relação com o consumo e com a cultura. As marcas que compreendem isso não vendem apenas produtos: vendem cenas, histórias e lugares onde as pessoas querem se ver representadas.

 

E onde entra o “fim da originalidade”?

A provocação aqui não é alarmista, mas reflexiva. Em um tempo em que tudo é remix, em que tendências se alimentam de outras tendências e que a IA pode gerar obras “originais” em segundos, o conceito tradicional de originalidade está sendo desconstruído.

Não significa que a criatividade acabou. Pelo contrário. Significa que criatividade agora é curadoria, é combinação, é saber jogar com referências para criar algo novo a partir do que já existe. A autenticidade passa a ser mais importante do que a pureza da ideia.

Vivemos um tempo de originalidades derivadas. E isso, longe de ser um fim, pode ser o começo de uma nova forma de se expressar, de se conectar e de criar.

 

O que isso significa para marcas e consumidores?

Para as empresas que buscam construir relações duradouras com seus clientes, esses insights exigem escuta ativa e coragem para experimentar. E significa:

  • assumir o risco de ser estranho, autêntico e até desconfortável;
  • criar experiências que sejam vividas e compartilhadas, não apenas assistidas;
  • abandonar a busca pela “grande ideia original” e focar em relevância e contexto.


No fim, a cultura é um reflexo do nosso tempo. E, neste momento, ela pede menos perfeição e mais presença. Menos rigidez e mais jogo. Menos fórmulas e mais emoção.


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