ABRAREC Insights: As forças invisíveis que moldam o consumidor e os negócios
Na 12ª edição do ABRAREC Insights, seguimos cumprindo nosso propósito de fomentar reflexões estratégicas e aprofundar o debate sobre os movimentos que impactam o mercado e a experiência do cliente.
Vivemos uma era de transformações profundas, em que comportamento, tecnologia e consumo se cruzam em um cenário volátil e, muitas vezes, desconcertante. Essa foi a premissa da 1ª Reunião do Comitê de Análise de Mercado e Tendências da ABRAREC, conduzida por Jacques Meir — Diretor Executivo de Conhecimento do Grupo Padrão, Vice-presidente da ABRAREC e mentor da CX Brain.
Com uma abordagem provocadora e embasada por dados e experiências reais, Jacques apresentou um panorama das tendências que estão não apenas influenciando, mas desestabilizando empresas e consumidores. A seguir, destacamos os principais pontos discutidos.
Tendência não é achado: como separar o que veio para ficar do que é apenas modismo
Um dos primeiros alertas do encontro foi a necessidade de diferenciar achados (curtos, isolados, efêmeros) de tendências reais — que são assimiláveis, replicáveis, abrangentes e perenes. Como exemplo, Jacques usou o caso dos “pijamas adultos” versus o conceito de home fashion. Enquanto o primeiro é um achado curioso, o segundo representa uma transformação cultural mais profunda: o conforto como padrão de vestimenta e estilo de vida após a pandemia.
As grandes forças comportamentais em curso
O Comitê destacou uma série de tendências que revelam os impactos silenciosos (e muitas vezes devastadores) da vida hiperconectada e dos novos paradigmas sociais. Entre elas:
A Vida na Bolha
A tela como refúgio, mediando interações e reduzindo nossa capacidade de lidar com o contato humano real. O resultado? Uma sociedade fragmentada, que sofre ao ter que interagir fora do ambiente digital.
A Era da Raiva
O “pós-consumidor” é impaciente, intolerante e hipercrítico. A dopamina escassa, fruto de frustrações digitais e expectativas irreais, gera reações agressivas — inclusive nas relações de consumo.
A Grande Exaustão
Overload cognitivo. Decisões em série. Sono insuficiente. Informações em excesso. Todos os ingredientes do burnout contemporâneo.
Felicidade Fortuita
Consumidores buscam pequenas indulgências para compensar o cotidiano estressante. Um chocolate, um café especial, uma experiência sensorial — tudo isso se torna um alívio emocional.
Síndrome de Nárnia
Com a realidade cada vez mais dura, as pessoas buscam portais de escape. Mas, no Brasil, esse refúgio é digital e “instagramável”, uma versão idealizada da vida — para si e para os outros.
Os novos dilemas do consumidor brasileiro
Ainda, abordou reflexões sobre o Brasil real: um país com cerca de 0,1% de milionários e uma população que, majoritariamente, vive sob pressão financeira e emocional. Nesse contexto, o consumo se torna, muitas vezes, um exercício de esperança, indulgência e tentativa de fuga.
A ascensão dos sites de apostas (bets) ilustra bem esse comportamento: para muitos, o que é uma forma de “upgrade do mês”, uma aposta contra a lógica e a escassez.
A geração beta chegou antes da hora
A chamada Geração Z vive em constante estado de beta — testando tudo, rejeitando compromissos duradouros, buscando dopamina e evitando decisões irreversíveis. Essa geração é fluida em carreira, relacionamentos, identidade e consumo. E representa um desafio profundo para marcas que ainda pensam em fidelização da forma tradicional.
A mudança estática: o paradoxo das empresas que sabem, mas não agem
A provocação final da reunião é talvez a mais urgente: muitas empresas sabem que o mundo mudou, mas seguem paralisadas. Sofrem da “mudança estática” — reconhecem as tendências, mas seguem presas ao status quo, com medo de errar, esperando a tempestade passar.
O risco? Serem atropeladas pela convergência de transformações tecnológicas, econômicas e comportamentais.
Conclusão: qual é o papel do humano no mundo híbrido?
As tendências apresentadas nos colocam diante de uma pergunta essencial: qual é o papel do humano em um mundo cada vez mais dominado por dados, telas e inteligência artificial?
As marcas que desejam relevância precisarão ir além da entrega de produtos e serviços. Precisam entregar sentido, acolhimento, experiências que reduzam o cansaço cognitivo e aumentem o retorno emocional (ROSS – Return Over Sacrifice).
O cliente não quer apenas eficiência. Ele quer conexão. Quer dopamina. Quer se sentir visto, compreendido e respeitado.
Para aprofundar essa discussão e acompanhar as próximas reuniões do Comitê de Análise de Mercado e Tendências, siga a ABRAREC em nossas redes e assine nossa newsletter.