Relacionamento

Dia do Mediador – O Ofício de Ampliar as Possibilidades

Segundo um levantamento divulgado pelo Instituto de Pesquisas de Paz de Oslo, divulgado no mês de junho último, o mundo registrou, em 2024, o maior número de conflitos armados desde o final da Segunda Guerra Mundial: 61 guerras, envolvendo 36 países. Segundo a coordenadora da pesquisa, isso não reflete algo pontual, mas, sim, uma mudança estrutural no cenário global, dado que o mundo está “muito mais violento e fragmentado do que era há uma década”. 2

Conflitos são parte de qualquer relacionamento, bem sabemos; o que parecemos ainda não saber, com a clareza desejável, é como lidar com eles de formas menos destrutivas do que temos lidado, mundo afora, como as pesquisas aqui citadas ilustram muito bem.

Constatações dessa natureza nos convidam a refletir, de forma mais atenta, no trabalho do Mediador, profissional cuja atuação se celebra na data de hoje (23.09). 3

Um dos nomes mais respeitados do mundo, na temática da mediação de conflitos, é o do antropólogo norte-americano William Ury, um dos criadores do Programa de Negociação de Harvard e autor de diversas obras que já se tornaram referência obrigatória para todos os profissionais desse segmento.

Ele costuma se referir ao Mediador como aquele que assume ‘um terceiro lado’, alguém que traz para o conflito um olhar distinto daqueles que estão envolvidos diretamente nele, a partir de uma perspectiva mais ampla, que permite enxergar melhor o entorno da relação conflitiva. Segundo ele, assumir essa posição significa (I) buscar compreender ambas as partes, (II) fomentar um processo de negociação colaborativa e (III) dar suporte a soluções racionais, voltadas a atender, da maneira mais justa possível, as reais necessidades das partes e das comunidades ao redor delas. 4

Ao analisarmos os três passos mencionados por Ury na atuação do Mediador, vemos que deles emana, com clareza, um traço efetivamente indispensável a esse profissional: a capacidade altamente desenvolvida de escutar.

É essa escuta que tornará possível ajudar as partes a encontrarem, durante o processo, os meios necessários para superar a rigidez das posições por elas assumidas na desavença, dando espaço para que ali se revelem, com a maior clareza possível, os reais interesses e as legítimas necessidades de cada parte, a partir das quais se fará possível encontrar caminhos de saída.

Mergulhadas no conflito, as partes têm sua visão desfocada, reduzida, empobrecida pela percepção de que não lhes resta qualquer alternativa real, que não a defesa de suas posições – ainda que, em meio ao desgaste gerado pela tensão, nem sempre sejam capazes de articular claramente quais interesses reais dão sustento a elas.

É exatamente aí que o papel do mediador se revela tão primordial, nesses processos.

Só se consegue sair dessas ‘posições’ a partir de ‘visões de futuro’, que nos ajudem a deixar de lado as atribuições mútuas de culpa, que atuam como dificultadores de qualquer avanço real, no caminho da superação dos conflitos.

Ao apoiar as partes no processo de se desvincularem das amarras que as prendem ao passado, ajudando-as a vislumbrar horizontes mais abertos, o mediador amplia possibilidades.

Em um mundo mergulhado em bolhas, miopias, ressentimentos e medos, qual o valor de um caminho que represente real ampliação de possibilidades? Qual o valor de processos que nos ajudem, em meio aos conflitos, a vislumbrar caminhos de saída que não envolvam a eliminação do outro (como as guerras), mas, sim, o compartilhamento de visões de futuro pelas quais valha a pena trabalhar, de forma conjunta?

Sim, precisamos ampliar possibilidades – e, assim, precisamos de mais mediação. Em diversas frentes. Urgentemente.

 

 

Escrito por André Luiz Lopes dos Santos

1 – ANDRÉ LUIZ LOPES DOS SANTOS: Advogado. Mestre em Direito Político e Econômico pela Universidade Mackenzie, SP, e autor de livros e artigos jurídicos publicados por diversas editoras (Atlas, Edicamp, RT/Thomson Reuters, dentre outras). Gerente de Compliance, Privacidade e Proteção de Dados da QUOD S/A. Conselheiro Institucional da ABRAREC. Foi Diretor do Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor do Ministério da Justiça – DPDC/SENACON/MJ (2016/2017), Diretor Adjunto de Autorregulação e Relacionamento com Clientes da FEBRABAN (2007/2012), Diretor de Atendimento e Orientação ao Consumidor da Fundação Procon/SP (2003/2005), Consultor independente, com atuações junto à UNESCO (2014) e ao PNUD (2016). Professor Universitário.

2 – Fonte: https://oglobo.globo.com/mundo/noticia/2025/06/11/mundo-teve-em-2024-maior-numero-de-conflitos-armados-desde-o-fim-da-segunda-guerra-mundial-aponta-relatorio.ghtml

3 – Há quem realize essa celebração em data diversa, como, por exemplo, o Paraná, cuja Lei Estadual 20.231/2020 fixou como Dia do Mediador a data de 5 de maio, em homenagem a um Desembargador daquele Estado. Nesse sentido, v. https://www.assembleia.pr.leg.br/index.php/comunicacao/noticias/dia-do-conciliador-e-do-mediador-reconhece-contribuicao-para-resolucao-celere-e-menos

4 – Mais informações sobre William Ury e sobre esse tema estão disponíveis, em inglês, no endereço eletrônico https://thirdside.williamury.com/what-is-the-third-side/

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